A direita brasileira se encontra em uma crise de liderança sem precedentes, conforme análise recente do influente jornal britânico Financial Times. A publicação internacional afirma que o clã Bolsonaro se “autodestruiu” devido a uma série de reveses políticos e judiciais, forçando o campo conservador a buscar um novo nome para as eleições de 2026.As tensões se acentuaram após o trânsito em julgado da ação penal que condenou o ex-presidente Jair Bolsonaro, culminando no início de sua pena de 27 anos e três meses de prisão por tentativa de golpe de Estado. Com Bolsonaro inelegível até 2060 e cumprindo pena, seu papel como líder máximo da direita foi drasticamente comprometido, expondo um racha profundo, inclusive dentro do Partido Liberal (PL) e na própria família.Os Golpes Fatais e o Vazio de LiderançaA análise do Financial Times, ecoada por outras publicações como The Economist, destaca o “colapso simultâneo de estratégia, liderança e unidade” no movimento bolsonarista. Entre os fatores que contribuíram para a crise, estão:Prisão e inelegibilidade de Bolsonaro: A condenação e a prisão do ex-presidente impuseram um desafio inédito à direita, que perdeu seu principal cabo eleitoral e figura unificadora. O PL, inclusive, suspendeu as atividades partidárias e a remuneração de Bolsonaro.”Fracasso espetacular” de Eduardo Bolsonaro nos EUA: O FT classificou o lobby do deputado em Washington para tentar evitar a prisão do pai como “desastroso”. A iniciativa, que resultou na imposição temporária de tarifas de 50% sobre produtos brasileiros – irritando o empresariado – não apenas falhou em influenciar o Supremo Tribunal Federal (STF), como acelerou o desgaste político da família e expôs o parlamentar a novas acusações no Brasil, levando-o a um “exílio autoimposto” nos Estados Unidos.Disputas internas e divisão: Com o vácuo de poder, as disputas entre potenciais candidatos da direita, como o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG), e a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL), se intensificaram.Tarcísio de Freitas e Nikolas Ferreira: Os Novas ApostasApesar da crise na figura central do bolsonarismo, o Financial Times ressalta que a direita permanece competitiva no Brasil. Pesquisas recentes de opinião, como o levantamento AtlasIntel/Bloomberg, mostram a preferência do eleitorado de direita e centro-direita. Embora Bolsonaro ainda lidere com 43,1% como “melhor líder para a direita”, o deputado Nikolas Ferreira (22,5%) e o governador Tarcísio de Freitas (9,9%) aparecem na sequência. Michelle Bolsonaro soma 4,8%.O governador paulista, Tarcísio de Freitas, é apontado pelo FT como a nova aposta da direita, visto como um nome capaz de resgatar o campo político sem carregar o desgaste dos últimos acontecimentos. No entanto, sua aproximação com o Centrão e sua postura menos radical causam atrito com a ala mais ideológica do bolsonarismo.O Cenário para 2026: Segurança em FocoO jornal britânico conclui que, a menos de um ano das eleições, a direita brasileira está dividida, mas não derrotada. A segurança pública é citada como o tema que deve dominar o debate de 2026, sendo um ponto vulnerável para o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.Apesar da turbulência e da reclusão de seu principal expoente, o ex-presidente Bolsonaro continua, de forma indireta e por meio de seus aliados, articulando candidaturas estaduais para as próximas disputas, mostrando que o movimento de direita ainda busca uma forma de sobreviver e se reorganizar sem seu líder.