A persistência do governo brasileiro em conduzir negociações técnicas e diplomáticas com os Estados Unidos começou a render frutos significativos, com o presidente Donald Trump anunciando a retirada de uma tarifa adicional de 40% sobre uma série de produtos agropecuários brasileiros. A decisão, vista como um recuo notável, levou o influente jornal americano The New York Times a afirmar que o Brasil “desafiou Trump e venceu”, destacando a lição de negociação dada por Brasília.
A reportagem do periódico americano, ecoando a manchete do jornal inglês citada, sugere que a aparente capitulação de Trump demonstra que os esforços americanos para pressionar o Brasil por meio de tarifas foram “basicamente em vão”. O cenário diplomático se inverteu após meses de tensões iniciadas em julho, quando o governo dos EUA impôs tarifas de 50% sobre todos os produtos brasileiros, em uma ação chamada pelo governo brasileiro de “tarifaço”.
Redução de 40% é Celebrada, Mas Negociação Continua
A revogação da tarifa de 40%, anunciada em novembro, abrangeu 249 produtos agropecuários, incluindo café, carne bovina, suco de laranja e frutas, aliviando consideravelmente o impacto no agronegócio nacional. O vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, celebrou a medida, que reduz a fatia das exportações afetadas pelo tarifaço de 50% de 36% para 22% da pauta total. A isenção tem efeito retroativo a 13 de novembro, permitindo o reembolso de tarifas já pagas.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva também expressou satisfação com o início da redução, mas ressaltou que a luta não terminou: “Não é tudo que eu quero”, afirmou o presidente, sinalizando que o objetivo é zerar a taxação adicional.
O Desafio de 50% e Setores Atingidos
Apesar do avanço, setores importantes da indústria continuam sob pressão. O tarifaço original de 50% e outras sobretaxas ainda incidem sobre:
- Máquinas e equipamentos de terraplenagem.
- Produtos eletrônicos e transformadores.
- Produtos semimanufaturados de aço e alumínio (sob a “Seção 232”).
- Aeronaves e peças aéreas (exceto bens civis).
- Têxteis, calçados e café solúvel.
Especialistas alertam que a manutenção das tarifas sobre esses setores pode levar a uma perda estrutural anual de até US$ 5 bilhões.
O Brasil tem mantido uma postura de negociação constante e técnica, acionando a Organização Mundial do Comércio (OMC) e aprovando a Lei da Reciprocidade Comercial, que autoriza a adoção de contra-tarifas. O chanceler Mauro Vieira e o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, têm liderado as rodadas de negociação.
Resposta à Pressão e Desfecho Político
O desfecho, para a imprensa internacional, sublinha o contraste entre a resiliência das instituições brasileiras e o destino dos políticos que tentaram miná-las. A revogação das tarifas mais significativas por Trump ocorreu em meio a um contexto de prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro, um aliado ideológico de Trump, por tentativa de golpe de Estado. O New York Times aponta que, enquanto as instituições brasileiras ignoraram as pressões externas, o comércio bilateral pareceu se dissociar da disputa político-ideológica.
A decisão dos EUA é um marco, mas o governo brasileiro, como afirmou o vice-presidente Alckmin, seguirá empenhado em excluir mais produtos da lista de taxação, visando a completa normalização do fluxo comercial com seu segundo maior parceiro.





