O presidente Luiz Inácio Lula da Silva recusou o convite para ser entrevistado pelo jornal O Globo, como parte de uma série sobre ex-presidentes da República. A negativa foi formalizada em uma carta endereçada ao jornalista Bernardo Mello Franco, na qual o presidente critica duramente o “notório tratamento editorial” que, segundo ele, o grupo Organizações Globo adota em relação a ele, seu governo e os processos judiciais a que foi submetido.
Na carta, Lula faz uma distinção entre a conduta dos jornalistas e a linha editorial da empresa. “Agradeço o convite para uma entrevista para o jornal O Globo em uma série sobre ex-presidentes da República. Seu convite destoa da censura imposta pelas Organizações Globo,” inicia o presidente. Ele afirma que o impedimento para atender ao pedido reside no tratamento editorial que, em sua visão, tem raízes em “inverdades divulgadas pelos veículos da Globo e jamais corrigidas”, mesmo após evidências e fatos reconhecidos por juristas.
O presidente reitera que as sentenças que o condenaram foram incapazes de apontar qualquer ato ilícito cometido durante sua gestão, alegando ter sido condenado por “atos indeterminados”.
”Ao invés de ser analisada com isenção jornalística, a perseguição judicial contra mim foi premiada pelo O Globo. As revelações do site The Intercept foram censuradas, escondendo as provas de que fui julgado por um juiz parcial, em conluio com os promotores, que sabiam da fragilidade e falta de provas da sua acusação.”
Lula condiciona a possibilidade de uma futura entrevista ao reconhecimento e correção do que chama de “tratamento editorial difamatório” por parte das Organizações Globo.
O Contexto da Crítica: Lava Jato e Anulações
A recusa de Lula e a crítica veemente ao tratamento editorial estão intrinsecamente ligadas ao período da Operação Lava Jato. O presidente se refere explicitamente à cobertura dos processos judiciais que resultaram em sua prisão em 2018.
As “revelações do site The Intercept” mencionadas na carta se referem à série de reportagens conhecida como Vaza Jato, que expôs diálogos entre o então juiz Sergio Moro e procuradores da força-tarefa, sugerindo parcialidade nas investigações e no julgamento.
Em 2021, o Supremo Tribunal Federal (STF) reconheceu a incompetência da Justiça Federal de Curitiba para julgar Lula e, posteriormente, declarou a suspeição de Sergio Moro, anulando todas as condenações contra o presidente.
Em meio a este cenário, o presidente da República mantém a posição de que a cobertura midiática da Globo à época foi crucial para a validação da perseguição judicial, o que se tornou um ponto central de sua relação com o grupo de comunicação.
Últimas Notícias e Repercussão
Desde a publicação da carta, a postura de Lula em relação a veículos de imprensa que ele considera hostis tem sido objeto de debate e notícia. O presidente, hoje no seu terceiro mandato, frequentemente critica o que considera ser uma falta de isenção na cobertura de seu governo e de sua trajetória política, um tema que ressurge periodicamente nas relações entre o Palácio do Planalto e a imprensa tradicional. A recusa a um veículo de grande alcance como O Globo reforça a estratégia do presidente de demarcar claramente sua posição em relação à cobertura de mídia que ele julga desfavorável.
Carta de Lula ao O Globo
Prezado Bernardo,
Agradeço o convite para uma entrevista para o jornal O Globo em uma série sobre ex-presidentes da República. Seu convite destoa da censura imposta pelas Organizações Globo.
Não confundo as organizações com as diferentes condutas profissionais de cada um dos seus jornalistas.
O que me impede de atendê-lo é o notório tratamento editorial que as Organizações Globo adotam em relação a mim, meu governo e aos processos judiciais ilegais e arbitrários de que fui alvo, que têm raízes em inverdades divulgadas pelos veículos da Globo e jamais corrigidas, apesar dos fatos e das evidências nítidas, reconhecidas por juristas no Brasil e no exterior.
As próprias sentenças tão celebradas pela Globo são incapazes de apontar que ato errado eu teria cometido no exercício da presidência da República.
Fui condenado por ‘atos indeterminados’.
Ao invés de ser analisada com isenção jornalística, a perseguição judicial contra mim foi premiada pelo O Globo.
As revelações do site The Intercept foram censuradas, escondendo as provas de que fui julgado por um juiz parcial, em conluio com os promotores, que sabiam da fragilidade e falta de provas da sua acusação.
Enquanto não for reconhecido e corrigido o tratamento editorial difamatório das Organizações Globo não será possível acolher um pedido de entrevista como parte de uma normalidade que não existe, pelos parâmetros do jornalismo e da democracia.
Luiz Inácio Lula da Silva”





