Internacional

Sobreviventes do ‘El Patronato’ Buscam Justiça e Reparação por Internação na Ditadura de Franco

Décadas após o fim da ditadura de Francisco Franco na Espanha, as vozes das mulheres que foram confinadas e submetidas a uma severa “reeducação” moral no sistema conhecido como El Patronato de Protección a la Mujer (Patronato de Proteção à Mulher) ganham força em sua busca por justiça, verdade e reparação.

​Criado oficialmente pelo regime em 1941 e ativo até 1985 (dez anos após a morte do ditador), o Patronato funcionava como uma rede de reformatórios e conventos supervisionados por ordens religiosas femininas. O objetivo era impor os valores ultraconservadores e católicos do franquismo, ditando um papel restrito e submisso para a mulher na sociedade.

​O Crime: Internação Por “Mau Comportamento”

​As mulheres e jovens internadas – muitas vezes antes dos 25 anos – não eram criminosas. Seus “crimes” incluíam ser mãe solteira, ter atitudes consideradas “rebeldes” pelos pais, ter relacionamentos extraconjugais, ser lésbica, ou simplesmente não se enquadrar no ideal de mulher católica e dona de casa da época. O sistema tinha autoridade para deter e confinar essas mulheres, frequentemente após denúncias de familiares, vizinhos ou até padres.

​Os depoimentos das sobreviventes revelam um cenário de severa repressão, humilhação e violência psicológica. O dia a dia era marcado por trabalho forçado (fregar, limpar, rezar), disciplina rígida e uma negação absoluta da sua sexualidade e individualidade. Algumas sobreviventes relatam ter sofrido choques de insulina, torturas e privações, com o intuito de forçá-las a “confessar” seus erros e aceitar a submissão. A historiografia aponta que o Patronato foi a “burocratização da morte moral da mulher” e um dos mecanismos de repressão misógina mais longevos do Franquismo.

​A Busca por Verdade e Reparação

​Nos últimos anos, com o ressurgimento da discussão sobre o legado do franquismo, o movimento das sobreviventes do Patronato tem se intensificado na Espanha. Muitas delas, que guardaram a vergonha e o trauma por décadas, agora lutam pelo reconhecimento de que foram vítimas da ditadura franquista.

​As últimas notícias e manifestações de sobreviventes, como Mariona e outras, mostram que a Igreja Católica na Espanha tem sido pressionada a pedir perdão pelo seu papel na gestão desses centros. Houve relatos de que, em eventos recentes, membros da Igreja pediram perdão de forma que as sobreviventes classificaram como “entrevelado”, “sem sentimento” ou como uma “justificação”, o que gerou explosões de indignação entre as mulheres. Para muitas, o perdão não é suficiente sem verdade, justiça e reparação.

​A luta por esse reconhecimento tem ganhado destaque no contexto da Lei da Memória Democrática espanhola, que busca abordar o legado do regime de Franco, incluindo a anulação de sentenças sumárias e o apoio à pesquisa histórica. No entanto, muitas sobreviventes ainda se sentem envergonhadas e exigem um pedido de desculpas nacional e um reconhecimento oficial do Estado para o sofrimento que enfrentaram.

​A memória do Patronato, que controlou a vida de dezenas de milhares de mulheres na Espanha, é um capítulo doloroso da história, e o clamor das sobreviventes por não serem esquecidas é um alerta crucial sobre o papel das instituições em regimes autoritários.

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