Extradição em pauta: Brasil deve enviar Sergey Cherkasov, suposto espião russo, de volta para a Rússia
O Brasil se posicionou pela extradição de Sergey Vladimirovich Cherkasov, cidadão russo acusado de ser um espião que utilizava identidade brasileira falsa (Victor Muller Ferreira), para a Rússia. A decisão coloca o país no centro de uma disputa internacional, já que os Estados Unidos também solicitaram a extradição de Cherkasov.
O Ministério da Justiça e Segurança Pública confirmou o parecer favorável à extradição para a Rússia. Contudo, o envio não é imediato e está condicionado ao cumprimento de penas e ao encerramento de todas as investigações e processos que o russo enfrenta no território brasileiro. Cherkasov foi condenado em primeira instância por uso de documento falso e é alvo de inquéritos por crimes como lavagem de dinheiro, corrupção e espionagem.
A Disputa pela Extradição
O suposto espião russo, preso em abril de 2022 ao tentar entrar na Holanda com o passaporte falso de Victor Muller Ferreira para um estágio no Tribunal Penal Internacional (TPI) em Haia, foi deportado para o Brasil. A sua prisão revelou um complexo esquema de agentes de inteligência russos que se passavam por brasileiros, uma “fábrica de espiões”, segundo a Polícia Federal.
- Rússia: Solicitou a extradição de Cherkasov primeiramente, acusando-o formalmente de tráfico de drogas, o que a Polícia Federal contesta, apontando indícios de que essa seria uma manobra para evitar que ele fosse julgado pelos EUA.
- Estados Unidos: Também pediram a extradição, alegando que o russo cometeu crimes de espionagem e fraude em solo norte-americano, onde estudou de 2018 a 2020.
- Decisão Brasileira: A prioridade dada ao pedido russo se baseou em critérios técnicos, como a ordem de chegada do pedido e a cidadania de Cherkasov. No entanto, a Lei brasileira de 2017 impede a extradição de estrangeiro que esteja respondendo a processo ou já tenha sido condenado no Brasil antes do cumprimento da pena ou do fim das investigações.
O caso está sob análise do Supremo Tribunal Federal (STF), que é o responsável por julgar processos de extradição. A decisão final, após o trâmite judicial, caberá ao Presidente da República.
O Esquema no Brasil
A investigação da Polícia Federal revelou que o Brasil serviu como uma base de apoio para a rede de espionagem russa por mais de uma década. Cherkasov, que se apresentava como Victor Muller Ferreira, obteve documentos válidos (certidão de nascimento, RG, CPF, etc.) com a ajuda de uma rede de apoio que explorava fragilidades nos órgãos emissores.
As investigações apontam que ele e outros espiões contavam com apoio financeiro e logístico, inclusive de um funcionário diplomático russo que fazia depósitos mensais em sua conta no Rio de Janeiro. A Polícia Federal mapeou que a rede se estendeu para outros países da América Latina, como Argentina e Venezuela.
O futuro de Sergey Cherkasov permanece em aberto. Embora o Brasil tenha se manifestado a favor da extradição para a Rússia, ele continuará preso em uma penitenciária federal em Brasília até que o Judiciário conclua os processos em curso no país, mantendo o caso no centro das tensões geopolíticas entre Moscou e Washington.





