O campo da direita brasileira se encontra em um momento de profunda incerteza e fragmentação, a menos de um ano das eleições presidenciais de 2026. Duas frentes de tensão principais – as disputas internas na família Bolsonaro e a movimentação estratégica de líderes do Centrão, como Gilberto Kassab (PSD) – sinalizam um cenário de desorganização que pode custar caro ao grupo na disputa pelo Palácio do Planalto.
🏠 Dissidência no clã e o papel de Michelle
As divergências políticas, que agora se manifestam em conflitos familiares, tornaram-se públicas após a prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro. Segundo relatos, os filhos do ex-presidente — unidos após a detenção do pai, apesar de animosidades passadas — teriam coordenado ataques à ex-primeira-dama, Michelle Bolsonaro, em uma tentativa de manter o poder de decisão sobre os rumos da direita.
A ex-primeira-dama, por sua vez, tem afirmado a aliados, sob reserva, que toparia a vaga de vice em uma chapa presidencial, como forma de manter o legado bolsonarista. Analistas apontam que um “comando dividido” do movimento pode fragilizar a coesão da base, enfraquecendo o bolsonarismo como força centralizadora da direita.
🎯 Kassab e a “direita 2.0” buscam autonomia
Paralelamente ao racha familiar, partidos de centro-direita com forte capilaridade regional, como PSD, PP e União Brasil, buscam se afastar da dependência total do clã Bolsonaro e impulsionar candidaturas próprias ou apoios a nomes fora da família. O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), é o nome mais forte nesse movimento, apelidado por bolsonaristas de “Direita 2.0”, que inclui outros governadores como Romeu Zema (Novo), Ronaldo Caiado (União Brasil) e Ratinho Júnior (PSD).
O presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, tem sido enfático ao declarar que seu partido apoiará Tarcísio, mas com uma ressalva importante. Em evento recente, Kassab declarou que Tarcísio “não pode se apresentar como bolsonarista. Ele tem que ser um líder acima de tudo”. A fala, com nuances parecidas no PP, reforça a pressão para que o governador paulista adote um discurso mais ao centro, o que gera desconfiança no círculo mais próximo de Bolsonaro.
🔄 Indefinição favorece o governo
A inelegibilidade do ex-presidente Jair Bolsonaro, somada à resistência de siglas importantes ao nome de Flávio Bolsonaro e à indefinição de Tarcísio de Freitas — que tem focado na reeleição, apesar das investidas do Centrão — cria um vácuo de liderança.
Especialistas em análise política veem na demora e na fragmentação da direita um “ativo” para o Palácio do Planalto. A aposta do governo é que a permanência de um sobrenome Bolsonaro na disputa, seja na cabeça de chapa ou como vice, mantém a polarização, desfavorecendo o surgimento de uma terceira via coesa e reforçando o antagonismo que impulsiona o lulismo.
A direita, assim, se encontra em um dilema: insistir em um nome de confiança do clã para preservar o bolsonarismo raiz, correndo o risco de dispersão e perda de protagonismo; ou buscar a alforria em nomes como Tarcísio, que, para ganhar o centro, precisam se descolar de parte da retórica mais extremista, desafiando a lealdade do eleitorado mais fiel de Bolsonaro.





